segunda-feira, 11 de outubro de 2010

OS IGNORANTES CULTOS

O período de campanha eleitoral é sempre muito intenso, com candidatos expondo suas propostas e fazendo suas promessas. Mas o que mais me chama atenção é o período pós-eleição, quando surgem os “analistas” e começam a buscar interpretações para a vitória de uns e a derrota de outros. E dentre todas as análises, sejam elas feitas por profissionais da política ou nas esquinas, temos sempre aqueles indivíduos, os perdedores, que não se conformam com os resultados das urnas e desancam a culpar os pobres pela derrotas dos candidatos “limpinhos”. O discurso é sempre o mesmo: a culpa é dos nordestinos, do Bolsa Família, dos analfabetos, esbravejam com ódio os ignorantes que se acham cultos. O que essa gente não percebe é que já passou da hora de respeitar as decisões populares. Se o pobre vota na Dilma é porque ele está sendo atendido pelo governo Lula. Ou será que são só os ricos que podem votar em causa própria? Vocês acham que quando um banqueiro escolhe um candidato, ele o faz pelo bem do Brasil ou pelo bem dos seus BENS?

Se o povo deu uma banana para o candidato da região foi porque ele não atendeu às expectativas populares e ponto. Esses ignorantes cultos não passam de hipócritas que se acham os donos das virtudes e da verdade, mas esquecem de procurar essas virtudes que tanto cobram dos outros em seus próprios círculos de amizade e familiares.

Esses mesmos “virtuosos e puros”, que não se conformam em ver o país nas mãos de um operário e “analfabeto”- como dizem - são os grandes divulgadores das mentiras, calúnias e ofensas que têm atingido a candidata Dilma. Até alguns padres, inclusive em São José, têm feito campanha usando o preconceito, a intolerância e a incitação ao medo, tentando distorcer a história de acordo com o que lhes convêm e julgando as pessoas como se fossem o próprio deus.

Espero que os cidadãos não se deixem enganar por falsos profetas e nem por preconceitos e boatos mentirosos, mas que votem levando em conta o bem comum e conscientes da importância da sua participação efetiva na eleição do futuro presidente.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Ivan Valente: “PSOL apresenta proposta transformadora e participativa para o Brasil”

ENTREVISTA

O candidato à reeleição para deputado federal pelo PSOL Ivan Valente esteve presente durante debate com Plínio de Arruda na PUC-SP nesta última sexta-feira (17/09).

Ivan conversou com o PUCf5 sobre suas propostas de governo e expectativas para a Câmara a partir das eleições de outubro.

PUCf5: Qual a expectativa do senhor para estas eleições?

Ivan: Olha, eu acho que existe uma superpolarização que é a campanha da Dilma e do Serra, que é também forçada pelos meios de comunicação. São dois projetos que representam a mesma política econômica e os mesmos métodos políticos. O PSOL apresenta uma candidatura alternativa, que defende um programa diferencial, que fala em auditoria da dívida pública, em reforma agrária, em defesa do Estado brasileiro. Isso quer dizer muito mais investimento em saúde e educação pública. Fala também em participação popular e fala em fazer política com ética e o PSOL é o único partido nessa questão toda que tem moral para falar em ética. Pela sua história, pela sua trajetória política, porque não tem nem mensalão petista, nem mensalão mineiro, nem do DEM. Ele quer discutir uma proposta transformadora e participativa para a sociedade brasileira através do nosso candidato Plínio de Arruda Sampaio.

PUCf5: E como o senhor vê hoje a situação dos deputados na Câmara? O que pode ser feito para mudar e como esta a situação lá atualmente?

Ivan: A oposição na Câmara dos Deputados é particularmente determinada pelo poder econômico. Se os bancos, o agronegócio, a grande indústria financiam, ela elege muitos parlamentares que defendem interesses privados contrários ao interesse público. Basta ver a votação do Código Florestal: 140 ruralistas que existem lá querem anistia geral para o desmatamento. Nós propusemos uma auditoria da dívida pública e a CPI que conseguimos fazer na Câmara Federal sendo boicotados por deputados sejam governistas sejam da oposição de direita, e protocolamos no Ministério Público um pedido de auditoria de 870 páginas em que nós colocamos claramente que o Brasil não pode mais gastar 36% do orçamento, ou seja, 380 bilhões de reais por ano pagando juros e amortizações da dívida pública, enquanto se gasta menos de 5% do orçamento para a saúde e menos de 3% para a educação.

PUCf5: Como o senhor vê as mudanças feitas no PNDH-3 (Plano Nacional de Direitos Humanos 3)?

Ivan: Um imenso retrocesso. O plano original continha elementos de democratização, de busca da verdade, de combate à discriminação na sociedade brasileira e eu acho que por uma pressão de vários setores, particularmente dos militares, que querem continuar anistiando torturadores no Brasil, o governo retrocedeu, foi muito ruim. O problema do controle social da mídia, que é um monopólio absoluto de sete famílias a começar pela Rede Globo e o Roberto Marinho, tudo quando se fala participação popular e controle social eles vulgarizam para dizer que é censura, o que é uma grande mentira. Então eles retiraram isso do projeto, que é uma questão importante, você democratizar os meios de comunicação de massa. Um terceiro ponto é aquele que mediava os conflitos agrários e era fundamental. Ao invés de você democratizar a terra, fazer uma reforma agrária, buscar no Brasil um consenso para isso, você determina que a Justiça possa imediatamente usar a força policial em um conflito que termina em milhares de mortos no campo ao invés de iniciar um processo negocial. Porque no Brasil permanece a grilagem de terras e permanece o trabalho escravo, que é defendido pela bancada ruralista. E outras questões também, como o direito ao corpo da mulher, que é a questão do aborto é um tremendo retrocesso por pressões das igrejas. Em matéria de direitos civis, o que estava colocado no plano é um avanço civilizatório e de direitos humanos e civis, ou seja, o direito da mulher de julgar o que é melhor para o seu próprio corpo, o direito de escolha. Então predomina uma visão religiosa quando no Brasil já acabou a separação da Igreja com o Estado há mais de 130 anos, o Estado brasileiro é laico.

PUCf5: Qual a principal proposta do PSOL?

Ivan: A auditoria da dívida pública, porque através desse mecanismo você faz uma auditoria e determina que as ilegalidades, as irregularidades que foram cometidas pelo pagamento da dívida externa e da interna brasileira foi um assalto aos cofres públicos e foi um impedimento para que bilhões de reais fossem gastos para o pagamento de juros ilegalmente. Nos últimos oito anos, nós pagamos dois trilhões de reais de juros. Se isso fosse dedicado à saúde, à educação, ao saneamento básico nós teríamos uma condição de distribuição de renda e de justiça social muito superior. Então continua sendo uma bandeira nossa. Eu fui autor também do Plano Nacional de Educação em 1998 para gastar 10% do PIB em gasto público à educação. Vocês sabem que o que foi aprovado no Congresso para educação foi 7% do PIB e depois isso foi vetado pelo Fernando Henrique Cardoso e hoje o Brasil continua gastando miseráveis 3,5% do PIB. Ou seja, a educação não melhora no nosso país porque não há investimento maciço em educação, o dinheiro é desviado para pagar juros da dívida. Então, nós continuamos afirmando que não há transformação na qualidade da educação no nosso país se nós não fizermos um investimento maciço em educação, assim como a defesa do Sistema Público Único de Saúde contra as privatizações e terceirizações. E a defesa do meio ambiente, onde nós repudiamos essas pressões do agronegócio brasileiro para destruir a biodiversidade brasileira e o imediatismo de querer fazer uma ocupação no país onde se tem a maior reserva de água doce do mundo e 60% quase coberto por floresta. Então nós entendemos essa mudança no Código Florestal da forma que vem sendo pretendida criminosa.

PUCf5: Só para encerrar candidato, o senhor tem algum recado para deixar para os leitores do PUCf5?

Ivan: Os meios de comunicação têm engessado a possibilidade de se discutir efetivamente programas, projetos, etc., porque o interesse econômico é muito grande. Mas no essencial não se discute por exemplo a grande política econômica, uma mudança estratégica. Por exemplo, por que o Brasil tem a maior taxa de juros do mundo? Por que o câmbio é flutuante no nosso país? Por que se paga religiosamente a dívida pública mas não se paga a dívida social no nosso país? Por que o Brasil é o único país que não fez reforma agrária? A Europa fez no século XIX, a América no século XX, aqui nunca se fez, o latifúndio se incorporou no agronegócio, se incorporou à modernidade. Todas as questões que não foram cumpridas, tarefas nacionais e democráticas de uma revolução brasileira. Isso que o PSOL defende e quer discutir, baseado em um princípio: da igualdade e da justiça social.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Quanto mais religioso, mais pobre tende a ser um país


Correlação é conclusão de pesquisa feita em 114 nações; EUA são exceção

Para líder ateu, religião rapta bens, dinheiro e mentes que deixam de ser empregados em atividades econômicas

HÉLIO SCHWARTSMAN
ARTICULISTA DA FOLHA

Quanto mais religiosos são os habitantes de um país, mais pobre ele tende a ser. Essa é a conclusão de uma pesquisa Gallup feita em 114 nações e divulgada no último dia 31 que mostra uma correlação forte entre o grau de religiosidade da população e a renda "per capita".
Correlação, vale lembrar, é um conceito traiçoeiro. Quando duas variáveis estão correlacionadas, tanto é possível que qualquer uma delas seja a causa da outra como também que ambas sejam efeitos de outros fatores.
Desde o século 19, a sociologia tem preferido apostar na tese de que a pobreza facilita a expansão da religião. "Em geral, as religiões ajudam seus adeptos a lidar com a pobreza, explicam e justificam sua posição social, oferecem esperança, satisfação emocional e soluções mágicas para enfrentar problemas imediatos do cotidiano", diz Ricardo Mariano, da PUC-RS.
"As religiões de salvação prometem ainda compensações para os sofrimentos e insuficiências desta vida no outro mundo", acrescenta.
O sociólogo, porém, lembra que há outros fatores: "A restrição à liberdade religiosa, ideologias secularistas e o ateísmo estatal dos países socialistas contribuíram para a baixa importância que sua população atribui à religião, como ocorre na Estônia, campeã nesta matéria, e na própria Rússia".
Já na Europa Ocidental, diz Mariano, "modernização, laicização do Estado e relativismo cultural erodiram bastante a religiosidade".
A grande exceção à regra são os EUA. Com uma das maiores rendas "per capita" do planeta, 65% dos norte-americanos atribuem importância à religião em sua vida diária. Tal índice é bem superior à média dos países mais ricos, que é de 47%.
Sem descartar um papel para as explicações sociológicas mais tradicionais, que chama de "fator ópio do povo", Daniel Sottomaior, presidente da Atea (Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos) aventa algumas hipóteses na direção contrária, isto é, de que a religião é causa da pobreza. "Ela promove o fatalismo e o deus-dará", diz.
Em certos lugares, notadamente alguns países islâmicos, ela desestimula a educação e impede a adoção do pensamento científico.
Além disso, afirma Sottomaior, "a religião não apenas não gera valor como sequestra bens, dinheiro e mentes que deixam de ser empregados em atividades econômicas e de desenvolvimento".

RELIGIOSOS
Para religiosos ouvidos pela Folha, é a riqueza que pode reduzir o pendor das pessoas à religiosidade.
Segundo o padre jesuíta Eduardo Henriques, "a abertura a Deus é inversamente proporcional à segurança oferecida pela estabilidade econômico-financeira, com exceções, é claro. Espiritualmente falando, os pobres tornam-se sinais mais eloquentes de que ninguém, pobre ou rico, basta a si mesmo. Por isso Jesus chamou os pobres de bem-aventurados".
Já para o pastor batista Adriano Trajano, a pesquisa mostra que quanto maior for o estado de pobreza e pouco desenvolvimento econômico no país, "maior será a busca por subterfúgios sobrenaturais, pois a religião tem esse poder de transportar o necessitado a um mundo de cordas divinas". "Que a religião desempenha um papel importante nas sociedades, não há dúvida, resta saber até que ponto esse papel favorece a vida?", pergunta.
O teólogo adventista Marcos Noleto é mais radical: "Há uma incompatibilidade da fé prática com a riqueza. Assim como dois corpos não podem ocupar um mesmo lugar no espaço, na mente do homem não há lugar para duas afeições totais. Veja que Deus escolheu um carpinteiro e não um banqueiro para ser o pai de Jesus".

Em debates com estudantes, Ivan defende soberania nacional e novo projeto para o país

Ivan Valente participou na última semana de diversos debates em faculdades e escolas de ensino médio em São Paulo, sempre defendendo os projetos do PSOL para o estado e o país.

Na última terça-feira (21/09), o debate foi na ESPM – Escola Superior de Propaganda e Marketing, onde Ivan Valente dividiu a mesa com o representante do PV para falar de política externa com os alunos do curso de graduação em Relações Internacionais.

O deputado defendeu que alguns princípios devem basear a política externa brasileira, que tem reflexos na política interna, como a soberania nacional e a auto-determinação dos povos. “Ainda não superamos o “subdesenvolvimentismo” e a dependência do capital financeiro internacional. Nos últimos 16 anos, temos tido uma relação subordinada ao que ditam o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização Mundial do Comércio”, criticou. “O problema central é que os mecanismos dos bancos multilaterais são definidos pelos países quem têm as maiores cotas. Assim, definem a política monetária, fiscal e as políticas públicas dos países. O FMI determinou tudo, assim como o Bando Mundial, cuja cartilha diz, por exemplo, que nos países em desenvolvimento é preciso reduzir a contratação de professores e aumentar o número de alunos por sala de aula, para economizar com os “gastos” no setor”, disse Ivan Valente. “Assim, criam uma enorme dependência financeiras dos países e nós defendemos soberania”.

Ivan Valente também defendeu que nossa política externa siga privilegiando a integração latino-americana e com os países em desenvolvimento, mas de forma que respeitemos sua autonomia, a liberdade e a busca da paz. “Na hora de pensar nosso desenvolvimento, é preciso refletir: o Brasil, para exercer hegemonia, precisa ser hegemonista? Temos que pensar em como fazer justiça social dentro e fora do país”, disse.

Ao responder uma pergunta de um dos estudantes, que questionou se não seria negativo para o Brasil associar sua imagem a países como a Bolívia e a Venezuela, Ivan Valente foi categórico ao defender os projetos de transformação sociais pelos quais passam diversos de nossos vizinhos latinos.

“Não há porque o Brasil se prejudicar com isso. A Venezuela vive um regime democrático, eleito por seu povo, e lá o governo enfrenta uma mídia de extrema direita, que inclusive participou do golpe contra o presidente em 2002. Na Bolívia, é preciso enxergar o processo como um período histórico, no qual, depois de 500 anos de exploração das elites, o país é dirigido por um indígena”, afirmou Ivan Valente. “São povos que estão se levantando para discutir seu futuro. Trata-se de uma contra-reação tardia aos golpes militares que atingiram o continente. Não há mancha no Brasil em se aliar a esses países”, avaliou.

Ao ser questionado sobre o acordo feito por Brasil e Turquia com o Irã, o deputado, que é membro titular da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, defendeu o desarmamento nuclear global e iniciativas do Itamaraty que busquem a construção da paz. “Eu sou contra o desenvolvimento de armas nucleares, mas temos que refletir por que só cinco países podem ter essas armas. O Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares tem que ser acompanhado, mas não por aqueles que tem o controle das armas. Brasil pode e deve trabalhar pela paz”, disse.

Ivan Valente criticou ainda as guerras no Afeganistão e Iraque, patrocinadas pelo “bushismo”, que “aumentaram a matança e impulsionaram o crescimento da indústria armamentista” e concluiu que o Brasil tem tudo para crescer sem subordinar seu desenvolvimento aos interesses daqueles que só pensam em explorar as riquezas do país.

Defesa da esquerda

Na quarta-feira (22/09), o debate aconteceu na Escola Lourenço Castanho, em Santo Amaro. Participaram da mesa os também candidatos Alexandre Youssef (candidato a deputado federal pelo PV), Marcus Peçanha (candidato a deputado estadual pelo PSDB) e Tarcísio de Oliveira (candidato a deputado estadual pelo PT). Num auditório repleto de estudantes do segundo grau, Ivan Valente apresentou as idéias do PSOL sobre a auditoria da dívida pública; defendeu 10% do PIB nacional para a educação, como previa a edição original do Plano Nacional de Educação; criticou as mudanças no Código Florestal patrocinadas pelo agronegócio; e defendeu a lei da Ficha Limpa e o financiamento público de campanha.

“PT e PSDB votaram contra a investigação da dívida pública na CPI que propusemos na Câmara”, lembrou Ivan Valente. “Enquanto isso, continuamos negando o aumento de investimentos na educação e pagando juros da dívida para banqueiros, que estão muito satisfeitos no nosso país”, disse.

Um dos momentos mais interessantes da discussão foi quando os alunos perguntaram aos candidatos sobre os conceitos que direita e esquerda na política, que para eles estão ficando muito parecidos. O candidato do PSDB concordou. Disse: “Direita e esquerda não existem mais. Acabou o conceito de classe. O que defendemos é igualdade de oportunidades”.

Ivan Valente retomou o conceito de esquerda no espectro político. “Na esquerda estão aqueles que defendem a igualdade, a justiça social, que se indignam com a pobreza. É um conceito que continua válido, mas que ficou turvo por causa da governabilidade”, disse. “Quando a gente entra num partido, tem que assumir o partido com coerência. Isso é necessário. PT e PSDB estão coligados em centenas de cidades. E o PV também tem suas contradições com as alianças que faz”, lembrou.

“Enquanto existirem classes sociais, existirá luta de classes. O mundo está mais complexo, mas segue existindo a acumulação de capital por conta da exploração dos trabalhadores. Por isso seguimos defendendo o socialismo. É um projeto que está no nosso horizonte: valores de solidariedade, fraternidade, de troca da competitividade pela justiça social. A proposta do PSOL se materializa no programa democrático popular, de garantia de dignidade para todos, por outra política econômica, contra a concentração de renda, terra e poder”, concluiu.

Ivan Valente participou ainda de um debate na Faculdade Santa Izildnha, em São Mateus, e com os alunos de economia da PUC-Barueri.

Carreata da vitória de Ivan Valente recebe apoio da população de SP. Veja as fotos


CLIQUE AQUI para ver as fotos da carreata da vitória de Ivan Valente, que percorreu neste sábado (25/09) pela manhã as principais vias do centro de São Paulo. A receptividade da população foi excelente e a militância aguerrida e vários candidatos a deputado estadual do PSOL marcaram presença.

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sábado, 18 de setembro de 2010

Ivan Valente: A urgência da democratização das comunicações no país

Ivan Valente

Retirado do programa da candidata do governo aquilo que a imprensa considerou “prática de censura” ou um “atentado à democracia” brasileira, a pauta das comunicações simplesmente desapareceu da cobertura da imprensa neste processo eleitoral. Nenhuma linha sobre políticas públicas sobre o setor, sobre novas leis para regular o mercado, nenhum questionando aos candidatos que disputam a liderança nas pesquisas sobre seu compromisso com avanços nesta área – seja do acesso à banda larga aos critérios para a distribuição da verba publicitária do Poder Executivo.

Esta postura dos grandes meios de comunicação não é nenhuma novidade, mas não deixa de ser lamentável. Historicamente, as decisões sobre a mídia em nosso país foram tomadas sem a participação democrática da sociedade, em grande parte porque a população sequer é informada sobre este seu direito. Nem durante as eleições. Um dos resultados é um cenário de grande concentração da propriedade dos meios e pouca pluralidade e diversidade na mídia. São pouquíssimas vozes falando e milhões ouvindo.

Mas o momento eleitoral é fundamental para pautar na sociedade brasileira a necessidade de mudanças no sistema de comunicações no país. Uma delas é a urgência de um novo marco legislativo para o setor, que passe pela regulamentação dos artigos da Constituição Federal que tratam do tema. Entre eles, o artigo 220, que proíbe o monopólio das comunicações no país. Para contribuir com esta discussão, nosso mandato apresentou no ano passado um Projeto de Lei que proíbe a propriedade cruzada dos meios de comunicação, de forma a limitar de forma horizontal e vertical a propriedade das empresas que atuam na cadeia produtiva da mídia brasileira.

É do PSOL também a Ação Direta de Inconstitucionalidade movida contra o Decreto 5.820/2006, que instituiu o Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD), que apesar de derrubada pelos ministros do STF, foi considerada procedente pela Procuradoria Geral da República. A PGR, como nós, entendeu que a transmissão em sinal digital deveria ser considerada um serviço diferente da transmissão analógica, para o qual seria necessário, portanto, a abertura de um novo processo de concessão de outorgas. Tal processo deveria então passar também pelo Poder Legislativo, o que foi ignorado pelo Decreto 5820. E mais: ao definir para o país um sistema que privilegia a transmissão em alta definição, o decreto jogou fora a possibilidade de ampliar o número de canais na televisão aberta, permitindo, por exemplo, que os canais públicos encontrassem espaço no espectro já congestionado de cidades como Rio de Janeiro e São Paulo.

O novo modelo institucional também deve afirmar o direito à comunicação como um dos pilares de uma sociedade democrática. É urgente garantir o direito de todas as pessoas de ter acesso aos meios de produção e veiculação de informação, de possuir condições técnicas e materiais para ouvir e ser ouvidas e de ter o conhecimento necessário para estabelecer uma relação autônoma e independente frente aos meios de comunicação. E a garantia deste direito é dever do Estado, que tem a responsabilidade de assegurar sua promoção.

O processo eleitoral é um espaço privilegiado para a afirmação desses princípios e deveres e, conseqüentemente, uma oportunidade para o avanço da luta pela democratização da mídia e pela ampliação da participação popular na construção das políticas públicas de comunicação. Tudo isso sem temer conflitos com aqueles que historicamente ajudaram a consolidar o vergonhoso monopólio característico do setor e que, durante o último governo, tiveram seus privilégios intocados.

Numa entrevista ao programa Roda Viva, o então ministro das Comunicações Hélio Costa, reafirmou, por exemplo, a resistência do governo federal à institucionalização de mecanismos de controle social das comunicações. Tema caro e reivindicação histórica daqueles que lutam pela democratização da mídia, o controle social é afirmado como ameaça à liberdade de expressão das empresas – as mesmas que, historicamente, são responsáveis para que a voz dos excluídos jamais seja ouvida no debate público.

É preciso afirmar que não são as empresas de comunicação que têm sua liberdade ameaçada, e sim os movimentos populares que querem a transformação do país. Em São Paulo, todos os meses vemos lideranças do movimento de rádios comunitárias criminalizadas e emissoras populares, caladas. Em alguns casos, a Polícia Civil do governo tucano de São Paulo – que sequer tem prerrogativa para atuar neste campo – tem participado de ações de fechamento das rádios. É mais uma prova da truculência com que o Estado brasileiro, em todas as suas esferas, ainda trata defensores da real liberdade de expressão.

Esperamos ainda que estas eleições apontem para uma mudança no perfil dos parlamentares do Congresso Nacional. Não basta apenas garantir a reeleição daqueles que são comprometidos com a luta pela democratização das comunicações – tão bem lembrados pela Caros Amigos em sua edição especial sobre as eleições. Será preciso impedir que aqueles que, atendendo a interesses particulares, sejam reconduzidos ao Congresso e sigam fazendo das concessões de rádio e televisão uma moeda de troca de favores políticos, e da nossa comunicação uma mercadoria a ser negociada por aqueles que detêm o poder político e econômico no país.

A gravidade desta situação é enorme. Um estudo do Laboratório de Políticas de Comunicação da Universidade de Brasília revelou que 37,5% dos membros titulares da Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara e 47% dos titulares da Comissão de Ciência, Tecnologia, Inovação, Comunicação e Informática do Senado são proprietários de emissoras de Rádio e TV ou têm familiares controladores destes tipos de veículos de comunicação. Levantamento feito pelo Professor Venício Lima também analisou a presença de parlamentares radiodifusores nas comissões e sua atuação em causa própria nos anos de 2003 e 2004, e detectou que deputados participaram e votaram favoravelmente nas renovações de suas próprias concessões.

Esta prática precisa acabar. Um dos maiores desafios na luta por um Estado democrático e para a realização plena de uma sociedade justa, sem opressões, é o resgate do ambiente da mídia como espaço público, desprivatizando-o mediante a inclusão progressiva de todos os atores sociais. Que a escolha feita pelo eleitor no próximo dia 3 de outubro crie as condições para um processo real de transformação neste campo, que dê voz ao nosso povo e força à nossa democracia.

* Artigo publicado originalmente no Correio Caros Amigos

O fim de um ciclo da velha mídia

Reproduzo artigo de Luis Nassif, publicado em seu blog:


Dia após dia, episódio após episódio, vem se confirmando o cenário que traçamos aqui desde meados do ano passado: o suicídio do PSDB apostando as fichas em José Serra; a reestruturação partidária pós-eleições; o novo papel de Aécio Neves no cenário político; o pacto espúrio de Serra com a velha mídia, destruindo a oposição e a reputação dos jornais; os riscos para a liberdade de opinião, caso ele fosse eleito; a perda gradativa de influência da velha mídia.

O provável anúncio da saída de Aécio Neves marca oficialmente o fim do PSDB e da aliança com a velha mídia carioca-paulista que lhe forneceu a hegemonia política de 1994 a 2002 e a hegemonia sobre a oposição no período posterior.

Daqui para frente, o outrora glorioso PSDB, que em outros tempos encarnou a esperança de racionalidade administrativa, de não-sectarismo, será reduzido a uma reedição do velho PRP (Partido Republicano Paulista), encastelado em São Paulo e comandado por um político – Geraldo Alckmin – sem expressão nacional.

Fim de um período odioso

Restarão os ecos da mais odiosa campanha política da moderna história brasileira – um processo que se iniciou cinco anos atrás, com o uso intensivo da injúria, o exercício recorrente do assassinato de reputações, conseguindo suplantar em baixaria e falta de escrúpulos até a campanha de Fernando Collor em 1989.

As quarenta capas de Veja – culminando com a que aparece chutando o presidente – entrarão para a história do anti-jornalismo nacional. Os ataques de parajornalistas a jornalistas, patrocinados por Serra e admitidos por Roberto Civita, marcarão a categoria por décadas, como símbolo do período mais abjeto de uma história que começa gloriosa, com a campanha das diretas, e se encerra melancólica, exibindo um esgoto a céu aberto.

Levará anos para que o rancor seja extirpado da comunidade dos jornalistas, diluindo o envenenamento geral que tomou conta da classe.

A verdadeira história desse desastre ainda levará algum tempo para ser contada, o pacto com diretores da velha mídia, a noite de São Bartolomeu, para afastar os dissidentes, os assassinatos de reputação de jornalistas e políticos, adversários e até aliados, bancados diretamente por Serra, a tentativa de criar dossiês contra Aécio, da mesma maneira que utilizou contra Roseana, Tasso e Paulo Renato.

O general que traiu seu exército

Do cenário político desaparecerá também o DEM, com seus militantes distribuindo-se pelo PMDB e pelo PV.

Encerra-se a carreira de Freire, Jungman, Itagiba, Guerra, Álvaro Dias, Virgilio, Heráclito, Bornhausen, do meu amigo Vellozo Lucas, de Márcio Fortes e tantos outros que apostaram suas fichas em uma liderança destrambelhada e egocêntrica, atuando à sombra das conspirações subterrâneas.

Em todo esse período, Serra pensou apenas nele. Sua campanha foi montada para blindá-lo e à família das informações que virão à tona com o livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr e da exposição de suas ligações com Daniel Dantas.

Todos os dias, obsessivamente, preocupou-se em vitimizar a filha e a ele, para que qualquer investigação futura sobre seus negócios possa ser rebatida com o argumento de perseguição política.

A interrupção da entrevista à CNT expôs de maneira didática essa estratégia que vinha sendo cantada há tempos aqui, para explicar uma campanha eleitoral sem pé nem cabeça. Seu argumento para Márcia Peltier foi: ocorreu um desrespeito aos direitos individuais da minha filha; o resto é desculpa para esconder o crime principal.

Para salvar a pele, não vacilou em destruir a oposição, em tentar destruir a estabilidade política, em liquidar com a carreira de seus seguidores mais fiéis.

Mesmo depois que todas as pesquisas qualitativas falavam na perda de votos com o denuncismo exacerbado, mesmo com o clima político tornando-se irrespirável, prosseguiu nessa aventura insana, afundando os aliados a cada nova pesquisa e a cada nova denúncia.

Com isso, expôs de tal maneira a filha, que não será mais possível varrer suas estripulias para debaixo do tapete.

A marcha da história

Os episódios dos últimos dias me lembram a lavagem das escadarias do Senhor do Bonfim. Dejetos, lixo, figuras soturnas, almas penadas, todos sendo varridos pela água abundante e revitalizadora da marcha da história.

Dia após dia, mês após mês, quem tem sensibilidade analítica percebia movimentos tectônicos irresistíveis da história.

Primeiro, o desabrochar de uma nova sociedade de consumo de massas, a ascensão dos novos brasileiros ao mercado de consumo e ao mercado político, o Bolsa Família com seu cartão eletrônico, libertando os eleitores dos currais controlados por coronéis regionais.

Depois, a construção gradativa de uma nova sociedade civil, organizando-se em torno de conselhos municipais, estaduais, ONGs, pontos de cultura, associações, sindicatos, conselhos de secretários, pela periferia e pela Internet, sepultando o velho modelo autárquico de governar sem conversar.

Mesmo debaixo do tiroteio cerrado, a nova opinião pública florescia através da blogosfera.

Foi de extremo simbolismo o episódio com o deputado do interior do Rio Grande do Sul, integrante do baixo clero, que resolveu enfrentar a poderosa Rede Globo.

Durante dias, jornalistas vociferantes investiram contra um deputado inexpressivo, para puni-lo pelo atrevimento de enfrentar os deuses do Olimpo. Matérias no Jornal Nacional, reportagens em O Globo, ataques pela CBN, parecia o exército dos Estados Unidos se valendo das mais poderosas armas de destruição contra um pequeno povoado perdido.

E o gauchão, dando de ombros: meus eleitores não ligam para essa imprensa. Nem me lembro do seu nome. Mas seu desprezo pela força da velha mídia, sem nenhuma presunção de heroísmo, de fazer história, ainda será reconhecido como o momento mais simbólico dessa nova era.

Os novos tempos

A Rede Record ganhou musculatura, a Bandeirantes nunca teve alinhamento automático com a Globo, a ex-Manchete parece querer erguer-se da irrelevância.

De jornal nacional, com tiragem e influência distribuídas por todos os estados, a Folha foi se tornando mais e mais um jornal paulista, assim como o Estadão. A influência da velha mídia se viu reduzida à rede Globo e à CBN. A Abril se debate, faz das tripas coração para esconder a queda de tiragem da Veja.

A blogosfera foi se organizando de maneira espontânea, para enfrentar a barreira de desinformação, fazendo o contraponto à velha mídia não apenas entre leitores bem informados como também junto à imprensa fora do eixo Rio-São Paulo. O fim do controle das verbas publicitárias pela grande mídia, gradativamente passou a revitalizar a mídia do interior. Em temas nacionais, deixou de existir seu alinhamento automático com a velha mídia.

Em breve, mudanças na Lei Geral das Comunicações abrirão espaço para novos grupos entrarem, impondo finalmente a modernização e o arejamento ao derradeiro setor anacrônico de um país que clama pela modernização.

As ameaças à liberdade de opinião

Dia desses, me perguntaram no Twitter qual a probabilidade da imprensa ser calada pelo próximo governo. Disse que era de 25% - o percentual de votos de Serra. Espero, agora, que caia abaixo dos 20% e que seja ultrapassado pela umidade relativa do ar, para que um vento refrescante e revitalizador venha aliviar a política brasileira e o clima de São Paulo

domingo, 12 de setembro de 2010

POR QUE VOTO IVAN VALENTE: Dessas pelejas que não se pode escapar

Em Brasília, dezenove horas…

Vou aqui panfletar mais um voto nestas eleições de 2010. E este pedido decorre da tarefa que considero mais importante neste processo eleitoral, talvez a mais difícil, mas essencialmente necessária: Eleger Ivan Valente, deputado federal por São Paulo.

Sim, é verdade. Por vezes, política torra o saco. Também é verdade, talvez uma grande verdade, que política não se esgota nos processos eleitorais. Aliás, as eleições tem sido cada vez mais despolitizadas, descaracterizadas e “cosmetizadas”. Mas é inegável que no processo eleitoral todos de alguma forma param para pensar um pouco sobre política. Sou daqueles que considera que devemos aproveitar esta possibilidade, com carinho.

Nossas ações são políticas. A opção pelo “bom dia” ao primeiro vizinho é uma decisão política. Compreender esta face cotidiana da política nos ajuda a compreender a importância do momento eleitoral. Contribui para que não nos esqueçamos do essencial. Daquilo que realmente deveria valer a luta.

Nestas eleições creio que há uma tarefa que não podemos fugir. Num processo tão marcado pela ausência do debate sobre a política, onde o raso é o mais fundo que se pode chegar, precisamos reconhecer que no Parlamento necessitamos de gente comprometida em discutir espinhos, em tratar da discordância, em lembrar do “bom dia”.

O Parlamento é o local onde as diversas idéias da sociedade são expostas. É o espaço de conflito onde o dissidente é fundamental. Alguém que tenha a dura missão de apontar feridas e que lute por aquilo que considera justo ou correto.

Dependerá de nosso voto, e sobretudo de nossa ação política, não deixar que o próximo Parlamento seja mais conservador que este que passou. Numa lógica onde o que prevalece é a “governabilidade”, mais do que nunca temos que levar ao Congresso Nacional vozes que cantem o dissenso e que não se acomodem com o discurso do possível. O Parlamento é antes de tudo, debate.

Por estas razões, a tarefa de reeleger o deputado federal Ivan Valente é fundamental. Trata-se de um mandato necessário.

A atuação de Ivan Valente na Comissão que discutiu as alterações previstas para o Código Florestal, denunciando propostas de mudanças na legislação que somente atendem aos interesses do agronegócio e que relativizam o conceito de “desmatamento” para atender tais interesses, demonstra a importância de ter alguém que diga “NÃO” e que lute.

O mandato de Ivan Valente é abrigo para lutas muito caras para todos nós que ainda sonhamos. É a certeza de que temas como a reforma agrária, a democratização dos meios de comunicação, a dívida pública e os investimentos do setor público, a luta contra o preconceito de classe social, raça, credo e orientação sexual, a educação pública de qualidade para formar gente e não para formar peças de engrenagem e a saúde pública e universal não ficarão de fora da pauta de discussões do Parlamento.

Ivan Valente é candidato a deputado federal pelo PSOL. Para se eleger um deputado, o partido precisa atingir ao “coeficiente eleitoral” que deve ser de mais de trezentos mil votos, somados os votos nominais e os votos de legenda. É muito voto. É muita luta, portanto.

Mas esta luta vale a pena. Perder um mandato tão necessário é perder um pouco de nós mesmos. É deixar de dizer “bom dia” com o argumento de que ninguém mais nos escuta. Que nos ouçam, então.

Fernando Amaral.

Ivan Valente é indicado a prêmio de melhor deputado federal pelo site Congresso em Foco




Pela quarta vez consecutiva, Ivan Valente está entre os deputados indicados ao Prêmio Congresso em Foco. A iniciativa premia os parlamentares mais votados pelos internautas, a partir de uma lista inicial formada por cerca de 200 jornalistas que cobrem o Congresso Nacional.

Ao todo, nesta primeira etapa, foram escolhidos 10 (entre os 81) senadores e 31 (entre os 513) deputados federais. Toda a bancada do PSOL está entre os deputados indicados, sendo que o deputado Chico Alencar, do PSOL-Rio de Janeiro, recebeu o maior número de indicações.

Como a divulgação do próprio prêmio afirma, a iniciativa é uma reação ao lugar comum de que “todos os políticos são iguais” e que nenhum deles é digno da confiança dos cidadãos. A intenção do prêmio é dar visibilidade aos deputados e senadores que se destacam positivamente. Aqueles que, na ótica dos jornalistas e dos leitores do site Congresso em Foco, merecem distinção por orientarem sua atividade no sentido dos interesses da sociedade.

Para Ivan Valente, que agradeceu a indicação dos jornalistas, o resultado é um reconhecimento do trabalho sério, coerente e relevante que o PSOL tem feito na Câmara dos Deputados. “Nossa indicação e a dos companheiros Chico Alencar e Luciana Genro indica que o PSOL é um partido necessário na Câmara, que tem independência para fazer o enfrentamento necessário e dar visibilidade e força às lutas dos movimentos sociais e em defesa dos interesses do povo brasileiro”, afirmou Ivan Valente.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Os ricos estão mais ricos, os pobres estão menos pobres e a desigualdade persiste



Por Clóvis Rossi

O mais persistente mito sobre o Brasil do Presidente Lula da Silva diz respeito à queda da desigualdade. O Brasil historicamente é um país de obscena desigualdade social, mas a propaganda oficial e a conivência de académicos que estudam o tema criaram a lenda de que a desigualdade está a cair, pouco mas a cair.

É um mito. O que diminuiu foi apenas a desigualdade entre assalariados, não entre o rendimento do capital e o rendimento do trabalho.

O abismo capital/trabalho é justamente a maior obscenidade. “A parte do rendimento do conjunto dos verdadeiramente ricos afasta-se cada vez mais da condição do trabalho, para se aliar a outras modalidades de rendimento, como aquelas provenientes da posse da propriedade (terra, acções, títulos financeiros, entre outras)”, escreveu Marcio Pochmann, atual presidente do IPEA (Instituto de Pesquisas Económicas Aplicadas), organismo estatal.

O texto foi escrito por Pochmann quando ainda era professor universitário, antes de ser chamado para trabalhar no Governo. Depois, o investigador diz não ter mudado de opinião, mas contribui para a persistência do mito da queda da desigualdade ao silenciar sobre o facto de que ela só se deu na parte menos relevante.

Outro importante economista do IPEA, João Sicsú, também antes de ser chamado para uma instituição pública, enfatizava números que demonstram que é impossível ter havido redução da desigualdade entre rendimento do capital e do trabalho.

Escreveu Sicsú: “Em 2006, o Governo federal pagou 163 mil milhões de reais [cerca de 73 mil milhões de euros] de juros aos detentores da dívida pública federal. Aproximadamente 80 por cento desse valor é apropriado por 20 mil famílias – que fazem parte da elite brasileira. Enquanto isso, em 2006, dezenas de milhões de pobres foram atendidos pelos programas de assistência social do Governo federal com apenas 21 mil milhões de reais [à volta de 9,4 milhões de euros]“.

A comparação continua a valer. O Bolsa Família – o programa de transferência de rendimento que o Governo Lula ampliou consideravelmente e é o factor central para a altíssima popularidade do Presidente – beneficia hoje 12,6 milhões de famílas, a custo anual de 13,1 mil milhões de reais (cerca de 5,8 mil milhões de euros).

Já o pagamento de juros para os detentores de títulos públicos somou, em 2009, a estratosférica quantia de 380 mil milhões de reais (cerca de 170 mil milhões de euros) ou 36 por cento do Orçamento do Brasil, de longe a maior rubrica de gastos.

A comparação é um tiro no coração do mito: se, como diz João Sicsú, 80 por cento do bolo de juros/amortização da dívida vão para apenas 20 mil famílias, estas terão recebido no ano passado algo em torno de 304 mil milhões de reais (mais de 136 mil milhões de euros). Já as 12,6 milhões de famílias pobres beneficiadas pelo Bolsa Família levaram apenas 13,1 mil milhões (5,8 mil milhões de euros).

Ou seja, 20 mil famílias ricas – como são as detentoras de títulos da dívida pública – ganharam 23 vezes mais dinheiro público do que os 12,6 milhões de famílias pobres.

Outra comparação que só reforça a impossibilidade de se ter reduzido a desigualdade aparece entre as percentagens do Orçamento que vão para o pagamento de juros da dívida e para áreas sociais vitais, como Educação e Saúde. Segundo o deputado Ivan Valente (do partido de esquerda PSOL – Partido Socialismo e Liberdade), enquanto para pagar juros são alocados 36 por cento do orçamento, para Educação ficam magros 3 por cento e muito pouco mais (5 por cento) para a Saúde.

Para lá do índice de Gini

O mito da queda da desigualdade é desmontado também por um estudo de organismos internacionais. Chama-se Emprego, Desenvolvimento Humano e Trabalho Decente – A experiência brasileira recente, preparado pelas Nações Unidas.

A investigação mostra que “juros, alugueres e lucros foram as parcelas do rendimento brasileiro que mais cresceram desde a última década, superando o rendimento dos trabalhadores. Os ganhos financeiros representavam, em 1990, 38,4 por cento do rendimento nacional – um dos componentes do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2003, o peso havia subido para 51,7 por cento. A remuneração das pessoas ocupadas apresentou tendência inversa e passou a ser a parte menor do bolo: caiu de 53,5 por cento para 42,9 por cento”.

Os dados do estudo param em 2003, exactamente o ano em que Lula assumiu a Presidência da República. Mas os números dos anos posteriores, usados por economistas hoje no Governo, como Pochmann e Sicsú, e a comparação entre o que o Governo gasta com o Bolsa Família e com os juros da dívida, demonstram que a situação pouco ou nada se alterou.

Conclui a ONU: “Esse cenário indica que os ganhos com o crescimento do PIB e os benefícios que as empresas brasileiras tiveram com melhoria de tecnologias podem não ter sido transmitidos, na mesma proporção, aos trabalhadores”. O estudo sugere que “a melhoria na distribuição funcional depende de políticas distributivas de rendimentos e, talvez ainda mais essencialmente, das condições em que os ganhos de produtividade são transmitidos aos trabalhadores. O comportamento das variáveis relevantes para essa transmissão foi pouco favorável aos trabalhadores no período aqui estudado”.

Como é possível, perante tamanha evidência fornecida pelas estatísticas, que se propague o mito da queda da desigualdade? Simples: o índice de Gini, a medida mais comummente utilizada para medir a desigualdade, reflecte apenas os ganhos salariais e com a rede de protecção social, como Bolsa Família e reformas de aposentação.

“Tais números equivalem a apenas 40 por cento do Produto Interno Bruto”, diz o professor Cláudio Dedecca, da Unicamp. E completa: os investigadores não têm acesso à renda com ganho de capital das classes A e B, obviamente as mais ricas.

Essa constatação empírica foi vivida na prática pelo jornalista Fernando Canzian, da Folha de S. Paulo, e por ele relatada no seu blogue. Este ano de 2010 é o ano do Censo no Brasil, a principal pesquisa para fazer uma radiografia do país, incluindo rendimento. Canzian respondeu ao questionário do Censo. Eis o seu relato:

“Num determinado momento, entre várias questões sobre número de casas de banho e rede de esgoto, quase ao final, o homem de boné [o recenseador] pergunta qual tinha sido o meu rendimento total no final de Julho de 2010. A resposta é imediata e irreflectida: digo o valor do salário bruto naquele mês. Ele anota e não faz nenhuma ponderação.

No carro, a caminho do trabalho, fico matutando se não deveria ter incluído no “total de rendimentos” o que recebo por emprestar minhas aplicações financeiras a juros elevados para financiar nosso Governo gastador. E o valor de um imóvel que está alugado, não deveria entrar na conta?

Em alguns meses, o Censo mostrará que a nossa desigualdade de salário e rendimentos continua extremamente elevada. Mas, assim como eu, a maioria dos que responderam ao breve questionário devem ter omitido (de propósito ou não) outras rendimentos que recebem além do oriundo do trabalho.”

Por isso, podemos apostar: o Brasil segue muito mais desigual do que as estatísticas mostram.

A persistência do mito da queda da desigualdade não quer dizer, no entanto, que a vida do brasileiro continua miserável. Não. Pelo contrário. A vida melhorou muito porque houve avanços nos salários, há mais gente empregada do que nunca, o crédito – que era uma ficção em todo o longo período de inflação absurda – foi apresentado a um público numeroso.

É quase certo que os mais ricos, como geralmente ocorre, tenham melhorado ainda mais de vida. Mas os mais pobres também melhoraram e, por enquanto, não parecem preocupados em fazer as contas para ver se melhoraram mais ou menos que os ricos. Importa-lhes o frigorífico novo, o carro novo, mais comida – e mais rica – à mesa. Por isso, a candidata de Lula à Presidência, Dilma Rousseff, tem imensas hipóteses de ganhar a eleição já na primeira volta a 3 de Outubro, embora seja absolutamente virgem em disputas eleitorais.


Clóvis Rossi, de 67 anos e 47 de jornalismo, é colunista e jornalista da Folha de S. Paulo
Artigo publicado no jornal PÚBLICO, de Portugal, em 05/09/2010